• Um pouco de HistóriaMuito tem se ouvido sobre as Coreias do Norte e do Sul ultimamente, não somente pela sua cultura popular, os jogos olímpicos de inverno e o fabuloso sucesso dos k-pop e do cantor Psy mas também, e infelizmente, pelas ameaças feitas pelo atual presidente norte Coreano Kim Jong-un. Apesar dessa recente notoriedade, esses países mantém ainda um certo mistério, provavelmente pelo fato de terem-se voluntariamente fechado durante muitos anos. Quando se conhece um pouco de sua História, entende-se bem o porque.

    A península que é hoje constituída pelas duas Coreias do Norte e do Sul, vivenciou séculos de domínio chinês, décadas de domínio japonês e muitas tentativas de domínio de diversas potências estrangeiras.

    De acordo com o historiador André Fabre no livro "Histoire de la Corée", a presença do homo sapiens na península é irrefutável. Ela foi habitada ininterruptamente por diversos grupos étnicos com comportamentos distintos até aproximadamente os anos 300 AC quando o território foi dividido em três reinos. É o período designado Os três reinos da Coreia.

    Nos anos 90 AC, a dinastia Silla toma o domínio da totalidade da península e unifica institucionalmente e culturalmente o reino. Em 1392 o general Yi Seonggye assume o poder dando início ao reinado da Dinastia Joseon (também conhecida como Dinastia Yi), idade de ouro desse país. Foi sob o reinado Joseon que o confucionismo foi adotado como ideologia dominante e o hangul, o alfabeto coreano, foi criado (ver rúbrica específica). Ela ficará no poder até 1910, ano em que o rei Sunjong, último monarca dessa dinastia, renuncia ao trono devido a anexação da Coreia pelo império japonês.

    O domínio do Japão sobre a Coréia vai durar 35 anos, só terminará com a rendição do Japão aos aliados em 1945 no final da segunda guerra mundial. Porém, o fim do domínio japonês não significa a independência do país. Os americanos e soviéticos dividem a península em dois e se auto-atribuem a metade pra cada um, os soviéticos ocupando a metade norte e os americanos a metade sul, que viveriam sob tutela até em 1949, quando ambos retiram suas tropas.

    É nesse momento que as hostilidades entre o norte e o sul começam, a guerra entre as duas Coreias vai durar três anos. No dia 27 de julho de 1953 é assinado o armistício que separa as duas Coréias em dois países distintos através de uma zona delimitarizada de 4km de largura e 346km de comprimento tal qual a conhecemos atualmente.

    Nos dias de hoje são dois países distintos com características opostas que compartilham a península, uma ditadura comunista no norte, considerada por especialistas o país mais militarizado e o menos democrático do mundo, e um próspero país capitalista no sul, classificado a décima segunda potência econômica do mundo.

    Depois de muitos anos de coabitação pacífica, esse equilbrio tem sido ameaçado desde a chegada no poder do presidente norte coreano Kim Jung-il em 2011. A participação conjunta das duas Coreias nos jogos olímpicos de inverno de 2018 poderia ser um sinal de reaproximação pacífica. 


    votre commentaire
  • Kimchi, o prato nacionalA cozinha coreana é decididamente muito pouco conhecida fora do país. Falarei sobre ela mais tarde. Nesse post vou falar exclusivamente sobre o kimchi. 

    Existem mais de 160 variedades de kimchi, legumes fermentados e colocados de molho com sal grosso tradicionalmente em grandes potes de argila (ver foto abaixo). Depois de alguns dias (ou meses) ele é temperado com alho, soju e geralmente com uma pimenta vermelha muito forte. Somente algumas poucas variedades de kimchi não são apimentadas, mas têm o mérito de existirem porque, como direi brevemente em outra página, a pimenta aqui é pra baiano nenhum botar defeito. Dentre os legumes usados na preparação do kimchi estão a couve, o repolho, o pepino e o rabanete, entre outros.

    O kimchi é o principal acompanhamento de qualquer prato coreano, é muito difícil, em todo caso eu nunca vi, uma mesa posta sem uma porção de kimchi. Inclusive nos restaurantes de cozinha estrangeira um prato de kimchi é também oferecido. Uma refeição não é completa sem ele. Além desta função de acompanhamento, ele é também usado como ingrediente de outros pratos coreanos, como a panqueca de kimchi, arroz ao kimchi, sopa de kimchi etc.

    No passado, o kimchi era preparado, conservado e servido como o legume das refeições de inverno. No final de novembro assistia-se ao gimjang, a preparação comunitária do kimchi feita em público e em grupo. Ainda hoje as donas de casa preparam nessa época do ano uma grande quantidade de kimchi que deverá, em seguida, ser posto em conserva e servido durante o ano.

    A importância do kimchi na cultura coreana é tanta que existem vários eventos ligados a ele, como o festival do kimchi ou o Museu do Kimchi.

    Os coreanos dizem que o kimchi possui um grande valor nutritivo e curativo.

    Durante a crise aviária, pesquisadores mostraram que um fermento láctico presennte no kimchi produzia efeitos curativos nos frangos atingidos pela doença. As pesquisas continuam, só nos resta agora aguardar os resultados.

    Kimchi, o prato nacional         Kimchi, o prato nacional          Kimchi, o prato nacional


    votre commentaire
  • A região de KyeongjuKyeongju é uma região que fica a aproximadamente 100km de Busan, riquíssima em história com uma importante concentração de monumentos.

    A cidade Kyeongju é considerada uma cidade-museu por ter sido a capital do Reino Silla que durou mais de 900 anos (entre 57 AC e 918 DC) e cujos vestígios são onipresentes. A Dinastia Silla foi responsável pela unificação da Coreia e pela instituição de uma certa cultura nacional que ainda perdura. Por ter sido capital do reino e local de residência da aristocracia e dos membros do governo, pode-se ainda ver nos dias de hoje belíssimas casas em perfeito estado de conservação que pertenciam à elite da época, construídas há mais de mil anos.

    De todos os monumentos que encontramos ali, os mais impressionantes, para mim, são os túmulos dos reis e rainhas e da aristocracia local, cujas formas são muito particulares, bem diferentes daquelas que podemos observar no ocidente. Eles constituem-se de imensos montes de areia cobertos de grama, que impõem-se, altivos, em pleno centro da cidade. Um deles é aberto ao público mas infelizmente, por razões óbvias, as fotos no seu interior são proibidas. Com essa visita pude, contudo, entender melhor a composição destes túmulos. Os soberanos são colocados em caixões que são colocados por sua vez em uma grande caixa de madeira com todos os objetos reais como coroa, cetro, jóias e outros pertences. Acima dessa caixa é colocada uma camada de 5m de pedras coberta com uma camada de 50cm de terra. O resultado externo é um monte cuja altura é variável de acordo com o prestígio do defunto, cobertos de uma grama cuidadosamente aparada regularmente. As fotos de sua forma externa encontram-se abaixo. A foto acima é a entrada do túmulo que pode ser visitado.

    Em Kyeongju encontramos também templos budistas grandiosos construídos para que Buda desse vitalidade ao reino. Pelo que sabemos da história dessa Dinastia, ele aparentemente deu. Dentre esses, o templo de Seokguram merece destaque devido a particularidade de ter sido construído em uma gruta em 751, onde encontra-se um grande e magnífico Buda de pedra. Esse templo está inscrito no patrimônio mundial da Unesco.

    A região de Kyeongju         A região de Kyeongju          A região de Kyeongju


    votre commentaire
  • O templo Haedong YounggungsaMagníficos templos budistas são onipresentes na Coreia e seria difícil falar de todos os que visitamos. O templo Haedong Yonggungsa merece, contudo, uma página à parte devido a uma particularidade essencial: ele foi construído na beira do mar, enquanto a grande maioria dos templos, em todo caso na Coreia, situa-se nas montanhas. Ele é assim chamado o santuário aquático budista. Ele fica à aproximadamente 10 kilometros de Haedundae, o bairro onde morávamos na cidade de Busan, no sul da península. A localização e a vista deste templo são belíssimas.

    Segundo as informações que obtive, esse templo foi construído em 1376 e preserva profundamente os conceitos religiosos do budismo mais que qualquer outro templo, pois reúne harmoniosamente o mar, o dragão e o grande Buda de ouro (ver fotos). Conforme a lenda, o grande Buda de ouro teria surgido nas costas de um dragão perto do mar. Sua imagem é venerada até os dias de hoje.

    Uma outra particularidade deste templo são os 108 degraus e lanternas de pedra que circulam uma paisagem de rochas que devemos subir para atingirmos o topo.

    No Ano Novo, visitantes vêm apreciar o primeiro nascer do sol do ano aqui no templo Haedong Yonggungsa pois este é um dos pontos mais ao leste do país.

    Na saída podemos degustar pequenas crepes de feijão mulatinho, delicioso docinho coreano que não é, para minha felicidade temporal, exclusivo àquele lugar.

    O templo Haedong Younggungsa         O templo Haedong Younggungsa          O templo Haedong Younggungsa


    votre commentaire
  • NA cerimônia da lua cheiaaquela época procurei em livros, na internet e em brochuras mas não encontrei em lugar nenhum. Porém, assisti ao vivo e à cores à cerimônia da lua cheia de 2008, que comemora a aparição da primeira lua cheia do ano de acordo com o calendário lunar que naquele ano ocorreu no dia 21 de fevereiro. Perguntei, então, a uma das minhas amigas coreanas que me explicou o significado desta festa que reproduz rituais da sociedade agrária em plena cidade de Busan.

    Jin me explicou que "na primeira lua cheia do ano, as famílias se reúnem em volta de uma fogueira para dançarem e cantarem em homenagem à lua e ao mesmo tempo para pedirem-lhe proteção para a lavoura. As roupas tradicionais usadas na festa reproduzem as roupas de uma rainha da época do reinado de Silla que institutiu esta cerimônia. O prato servido é o arroz de cinco grãos, um dos pratos tradicionais na Coreia, preparado com arroz, feijão, vagem, cevada e milho, provavelmente para sugerir a abundância da colheita. A fogueira era acendida para destruir os insetos nocivos às plantas e afugentar os maus espíritos e tornou-se um símbolo". 

    Naquele ano essa festa foi realizada na praia de Haeundae, onde eu morava. Uma árvore de aproximadamente 10 metros foi reproduzida e colocada na areia. Em torno dela, grupos de danças e músicas tradicionais se apresentavam, vários oradores fizeram discurso em um palanque e às 18h colocaram fogo na árvore que se transformou em uma imensa fogueira. As milhares de pessoas que empurravam para ver de perto os eventos começaram a sair correndo na direção oposta do fogo, daquela fumaça preta meio assustadora e das pequenas brasas que caiam sobre nossas cabeças. 

    Foi extremamente rico e edificante assistir a esse evento, mas advirto aos interessados que previnam-se usando roupas não inflamáveis. Até hoje lamento meu casaco branco queimado durante essa festa...

     


    votre commentaire